[1] BRING the NOIZE again

O International Workshop NOIZE promove a exploração teórica e empírica da música eletrónica contemporânea e seus subgéneros, bem como do seu universo material e simbólico. Nas duas últimas décadas, a produção artística e cultural tem sido influenciada por mudanças sociais, profissionais, artísticas, económicas e tecnológicas, paralelamente muitos atores têm sido responsáveis por reconfigurações dessas áreas um pouco por todo o mundo – e sem exceção, em Portugal. Essa reconfiguração começa desde logo pelos DJ´s, a par de outros músicos, produtores, promotores e editores e suas novas formas de produzir, apresentar, disseminar e incorporar a música, estendendo-se também aos espaços e a contextos específicos de consumo da música, como clubes noturnos, festas, pós-festas e festivais, que reconfiguraram decisivamente as práticas artísticas, culturais e de entretenimento desta sociedade contemporânea e pós-digital. Não obstante o mediatismo associado, a visibilidade científica face ao universo da música eletrónica é ainda diminuta, tendo em conta a sua dimensão e implicações.


Existe todo um conjunto de características que se têm vindo a sedimentar em torno da EDM e da eletrónica experimental, na tentativa de corporizar, delimitar e legitimar de forma conceptual e analítica estas produções musicais contemporâneas. Embora a obsessão com a tecnologia não seja um exclusivo da música eletrónica, estando também presente no domínio do rock e outros, o primeiro género musical tende a definir-se como machine music, sobretudo evidente no techno e concretizável na reverência concedida aos sintetizadores e moduladores. Marcando a diferença em relação às formas mais convencionais de fazer e perspetivar a música e a musicalidade, a música eletrónica explora processos em que construção musical é mais importante do que as próprias performances e em que as texturas imperam mais do que as notas.


Aqui surge a mais clara e forte inspiração do NOIZE: o trabalho desenvolvido por Simon Reynolds na sua obra Bring the Noise editada pela primeira vez em 2007. Falar de música eletrónica é falar de uma música eminentemente física, em que a centralidade assumida pelo ritmo desafia constantemente o corpo e os seus reflexos psico-motores: you’re so physical.


A música eletrónica apela e estimula a mente e a dimensão intelectual de uma forma muito particular, não no sentido de ativar um mecanismo interpretativo, como acontece com o rock em que as músicas são vistas como histórias suscetíveis de serem interpretadas, mas antes estimulando a compreensão em virtude de toda a complexidade que a música encerra, nomeadamente a partir da sua vertente rítmica, das suas texturas e profundidade espacial.


Na generalidade, é atribuído à música eletrónica um certo carácter vazio e superficial, sobretudo por parte de quem a observa de fora sem dela fazer parte, que tende a vê-la como uma mera fuga à realidade: um dos aspetos mais radicais da música, então, é a forma como a música eletrónica suprime o modelo de profundidade utilizado muita da crítica (em que alguma arte é profunda e alguma é superficial) porque todos os seus prazeres estão à superfície. A música é uma “superfície plana de felicidade sensível” (Reynolds, 2007: 316), a dance music subverte as tradicionais hierarquias classificatórias, revendo e reequacionando a própria noção de “música superficial ou ligeira e música profunda ou verdadeira”.


Na sua essência, a EDM assume-se enquanto manifestação contra a cultura de celebridades e o culto das estrelas ou das personalidades/egos, procurando inclusivamente o anonimato. A este respeito são paradigmáticas as apresentações públicas dos Daft Punk e os Kraftwerk, na medida em que os dois elementos da banda se ocultam atrás de artefatos robóticos. Todavia, esta tendência tem vindo a ser devassada pelo crescente estatuto de rock stars auto e hetero atribuído aos DJ´s e ao seu papel cada vez mais dominante na hierarquia do campo da dance music. Na dance music, “os géneros e as cenas tomam o lugar das estrelas e dos artistas – e é este o nível no qual é mais produtivo falar sobre música.


Na EDMC, uma grande quantidade de energia vai para a taxonomia cultural: identificando géneros e subgéneros como espécies” (Reynolds, 2007: 322). Existe neste quadro de interação, um constante ímpeto para a mudança, uma espécie de prenúncio do futuro em termos de tendências. Daí que se associem à música eletrónica uma profusão de géneros e de subgéneros, podendo ser exemplificativa a seguinte listagem: trip hop, drum’n’bass, downtempo, trance, garage, hardbag, jungle music, IDM (Inteligent Dance Music), modern soul, abstract hip hop, dark roller, funky, space music, drill’n’bass, ambient house, artcore, jazzstep, hypno trance, proto techno, cyber space, Detroit techno, Latin house, tech house, funky breaks, dark jungle, chill in/out, progressive electronic, garage, Chicago house, darkside, acid techno, minimal, tribal, indie dance, Euro house, sexcore, intelligent techno, cyberdelia, ambience, nu house, raggamuffin, new step, logical progression, speed techno, mokum style, earth dnb, twostep, darkcore, jump up, jazzy, full on, chillgressive, psychedelic trance, goa trance, progressive, hardtech, ambient, experimental, post-industrial, abstract, exploratory, deep techno,…